Oxi, uma droga


        
«… e não ha nada como estar limpo, cara, mas você precisa de esperança e esperança é algo que você tem que construir dentro de você.” John Lennon

(Por ocasião de sua entrevista em 1971, comentando sua prisão por porte de maconha pela Policia Londrina).

O TRÁFICO DE DROGAS
“Dentre os episódios mais execráveis em que se pode chafurdar o indivíduo, estão aqueles em que o egoísmo se projeta com tal fereza, que se mostra passível de promover a destruição de pessoas e de instituições respeitáveis, apenas para satisfazer aos anseios macabros dos seus portadores.
No bojo desses acontecimentos, destacamos a gravíssima questão do tráfico de drogas, no meio das sociedades diversas do mundo.
O traficante, na ânsia de lucrar, perde a capacidade de discernir, de refletir maduramente, desliga-se de todo sentimento piedoso, para dar vez ao se caráter miserável, expelindo venenosos dardos sobre todos os que, inscientes e invigilantes, se demorarem sob o seu jugo. Os responsáveis pelo tráfico de drogas não consideram os jovens, que se desenvolvem para a vida, tornando-os, isto sim, dependentes-consumidores das desgraçadas poções, levando-os aos lodaçais da morte moral, uma vez que quase nunca escapam de precoce morte física.
Na loucura à qual se acham atrelados, os traficantes investem contra indefesas e desprevenidas crianças, pelos veículos mais escusos, mais covardes, longe de todo escrúpulo, a fim de se locupletarem nas burras douradas as quais os conduzem ao egoísmo nauseante.
É nessa desonrosa faina que o traficante se compromete profundamente com as leis que procura abafar em sua consciência, mas essas leis lhe imprimem a fogo cada preço moral, retirando, a partir de então, a sua tranqüilidade, tornando-o, assim, moderno Caim, perseguido pela voz da alma, pelos gritos conscienciais que exigem justiça, que cobram reequilíbrio.” (Camilo, Educação e vivências, 2. ed., p.55).
Os vícios são consequências da fragilidade espiritual do indivíduo. Curiosidade (porque cada um quer ter a "sua" experiência), imitação (porque ele "tem" que ser aceito no grupo social), fuga (porque não consegue enfrentar a realidade), exibição (porque quer se destacar), rebeldia (porque tem que afirmar sua personalidade), coerção social ("todo mundo faz"), aventura (porque é "proibido") são alguns dos muitos fatores que levam as pessoas a assumir comportamentos viciosos, tornando-se aos poucos seres dependentes.
Os usuários de drogas, "pesadas"ou "leves", são Espíritos que trazem em si frustrações e rebeldias, vazios interiores e desmotivação para viver, mágoas e ressentimentos, sentimentos profundamente negativos incorporados ao seu patrimônio espiritual nesta ou em precedentes reencarnações.
Como ensina o Espírito Bezerra de Menezes, qualquer terapia, em relação ao problemas das drogas, deverá levar em consideração uma educação em regime de liberdade com responsabilidade, onde cada um possa exercer seu livre-arbítrio, respondendo por seus atos; a valorização do trabalho como método de afirmar-se na sociedade, em detrimento aos métodos escusos e corruptos que têm sido propostos por esta própria sociedade; a necessidade de viver com comedimento, evitando-se ilusões, sonhos e anseios descabidos; ambientes sadios e leituras edificantes, como antídotos às idéias fabricadas pelos meios de comunicação em massa.

O jovem usuário de drogas tem dificuldade de formar um "eu" adulto e fica sempre com uma sensação de incompletude, a droga age como um cimento nas fendas da parede que completa seu "eu", é a conhecida fase do "estágio do espelho quebrado" em que Olieveinstein (1991, apud Bergeret & Leblansc) diferencia o usuário do toxicômano. As carências constituídas na primeira infância acarretam esta "falta" ou "incompletude" e a droga vem para completar. 


Pedro tinha 8 anos quando começou a fumar maconha. Aos 14, experimentou cocaína. Com 19, foi apresentado ao crack. “Eu fumava cinco pedras e bebia até 12 copos de pinga.” Em janeiro deste ano, seu fornecedor de drogas, em Brasília, passou a oferecer pedras diferentes, com cheiro de querosene e consistência mais mole. Pedro estranhou. “Dizia a ele que a pedra estava batizada, que não era boa. O cara me dizia que era o que tinha e ainda me daria umas(pedras) a mais.” Não demorou para Pedro notar a diferença no efeito. A nova pedra era mais viciante. Para não sofrer com crises de abstinência, dobrou o consumo para até dez pedras por dia. Descobriu então que, em vez de crack, estava fumando uma droga chamada oxi. “Quando soube, vi que estava botando um veneno ainda maior no meu corpo. Fiquei com medo de morrer.” Aos 27 anos, depois de quase duas décadas de dependência química, Pedro sentiu que tinha ido longe demais. Internou-se numa clínica.
Patricia Stavis/ÉPOCA
A história de Pedro (nome fictício) ilustra o terror provocado pelo oxi, droga que está se espalhando rapidamente pelo Brasil. O oxi está sendo tratado pelos médicos como algo mais letal que o crack, considerado até agora a mais devastadora das drogas. Mas é consumido por pessoas que não sabem disso, porque é vendido em bocas de fumo como se fosse crack. “O oxi invadiu os postos de venda tradicionais. Isso preocupa”, diz o delegado Reinaldo Correa, titular da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil de São Paulo.


Ilustração: Rodrigo CunhaO agente penitenciário André (nome fictício), de 34 anos, morador de Rio Branco, no Acre, conhece bem os efeitos do oxi. “Quem usa chama de veneno”, diz. Como todo veneno, é traiçoeiro. André descreve o gosto da fumaça como algo “gostoso”. “Pega mais, dá uma viagem.” Não demora e surgem os efeitos adversos – dor de cabeça, vômitos e diarreias. E paranoia. André diz que ouvia vozes. “Era o demônio falando no meu ouvido.” Os efeitos também são físicos. “Via muitos usuários sujos de vômito e diarreia.” Mesmo assim, André não conseguia abandonar o uso. Vendeu o que tinha para comprar pedras. “Pedia aos boqueiros (quem trabalha nas bocas de fumo) que passassem na minha casa e pegassem tudo.” Geladeira, fogão, DVD, um a um, todos os móveis e eletrodomésticos foram trocados por pedras brancas. “Só não troquei a vida”, diz André, que está internado numa clínica ligada a uma ONG em Rio Branco. Ele afirma que só buscou tratamento porque, desempregado, não tinha mais dinheiro para abastecer o vício.


Yvonne Hemsey/Getty Images e Polícia Civil da Bahia



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