Drogas e Família

Características Presentes em Famílias de Dependentes Químicos
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é correspondente as reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza. Este impacto pode ser descrito através de quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das drogas e álcool:
1. Na primeira etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem.
2. Em um segundo momento, a família demonstra muita preocupação com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas conseqüências físicas, emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família.
3. Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as conseqüências do abuso de álcool e drogas. É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa em decorrência o alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em conseqüência do uso de drogas da mãe.
4. O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando desestruturação familiar.
Embora tais estágios definam um padrão da evolução do impacto das substâncias, não se pode afirmar que em todas as famílias o processo será o mesmo, mas indubitavelmente existe uma tendência dos familiares de se sentirem culpados e envergonhados por estar nesta situação. Muitas vezes, devido a estes sentimentos, a família demora muito tempo para admitir o problema e procurar ajuda externa e profissional, o que corrobora para agravar o desfecho do caso.

TERAPIA FAMILIAR EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA


PAPEL DA FAMÍLIA – A família é um fator fundamental tanto na dependência como em seu tratamento. Alguns estudiosos chegam a considerar a dependência como uma patologia familiar (doença de origem no funcionamento familiar). A genética, por um lado, é considerada responsável por 30% dos casos de alcoolismo, embora sua influência seja menor no caso de outras drogas. Por outro lado a convivência familiar, os relacionamentos interpessoais e seus conflitos bem como influências ambientais a que todos os integrantes da família estão submetidos, são considerados de importante contribuição para a dependência.
Um fator também digno de nota é o aprendizado de comportamentos de consumo (e outros associados ao abuso de substâncias e à dependência), ou seja, o indivíduo adquirindo hábitos e comportamentos a partir de seus familiares e amigos próximos.
A terapia familiar é um aspecto sumamente importante na recuperação do dependente em tratamento. Os membros da família constituem as "vítimas primárias" da dependência, além do próprio paciente. Vitimização, superproteção, culpa, raiva, mágoa, privações e desespero são quase sempre observados em familiares do dependente que inicia o tratamento. Agressões físicas, furtos e negligência complicam ainda mais a situação familiar, com conseqüências diretas em todas as suas relações interpessoais. A família se torna, assim, uma parte significativa do problema e fator de sua amplificação.
Durante o tratamento sempre nos deparamos com familiares com conhecimentos insuficientes (sobre drogas, álcool e suas implicações) para compreender a necessidade da participação no processo terapêutico e poder lidar satisfatoriamente com o problema. Preconceitos e sofrimento acumulado pelos familiares interferem com o processo terapêutico. Atenção especial deve ser dirigida aos familiares, o núcleo vivencial mínimo do paciente, para minimizar as chances de fracasso.
A família necessita discutir seus (pré-)conceitos, melhorar a qualidade das relações interpessoais para criar uma real estrutura de suporte ao paciente, que auxilie em sua reabilitação. Faz-se necessário que a família aprenda a não "sabotar" o processo de recuperação do paciente e mesmo sua abstinência. Os profissionais já se acostumaram com perguntas de familiares do tipo "- Mas se ele é dependente de cocaína, por que não posso oferecer uma cervejinha prá ele no churrasco, junto com a família?".
As famílias precisam lidar com negação, identificar outros possíveis casos, lidar com mal-entendidos, defesas mal-estruturadas, estigma e sua própria ignorância em relação às diversas dimensões do problema da dependência de substâncias psicoativas.
Aspectos psico-educacionais devem portanto ser incluídos em qualquer tratamento dirigido à família, qualquer que seja sua orientação psicológica, com o devido cuidado de preservar o espaço de discussão do funcionamento e rotina familiar e suas relações interpessoais. A mudança no estilo de vida, objetivo final do tratamento da dependência, também é a proposta deste modelo terapêutico, ainda sub-utilizado entre os instrumentos disponíveis no tratamento.


ESPIRITISMO NO COMBATE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA




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